quarta-feira, 27 de agosto de 2008

DOIS POSTS EM UM: RETORNO

Olá a todos,

já faz um longo tempo!
voltando aos pouquinhos com o blog, começo com alguns posts variados..
O primeiro deles, é sobre uma brincadeira que o Sifu sempre faz durante os treinos:
JET LI , um exemplo a ser seguido.

Bom, quem nunca tomou algum golpe, e o "acusou" ? Quem nunca fez alguma careta na hora de golpear? E quem nunca chegou no Mogun meio "pra baixo", de forma que todos perceberam logo?
Nossas expressões faciais estão muito presentes no nosso dia-a-dia. Onde as pessoas que convivem conosco, caso realmente nos conheçam, tem total facilidade de saber como estamos.
Para os artistas marciais, isso é ainda mais comum... Devido as imagens de inúmeros filmes e estereótipos que temos dentro de nós, é muito comum atribuir a idéia de que fazendo cara de "mau", minha posição de guarda estará melhor garantida.

Sifu sempre comenta brincando que certo está o Jet Li... Afinal, não importando qual emoção a cena de determinado filme queira passar através de sua interpretação, sua expressão facial não muda..
E eis que percorrendo esses blogs de humor da vida, acho a imagem abaixo:
haha, não é o Jet Li, mas o Steven Seagal ( ou Estevão Gaivota em bom Português) também é um cara de poucas expressões.Claro, tirando a já tradicional mordidinha de lábio quando um jamaicano sem-noção mata um de seus parentes em algum de seus filmes e ele fica possesso.


Mas falando sério, a grande característica do artista marcial segundo o Sifu, é permanecer neutro independente de como a situação se apresentar.

A isso, cito uma expressão em japonês: "Aikawarazu desu yo."(あいかわらずですよ)

Que é uma resposta dada quando alguém pergunta : "Como você está?"

E que significa algo como: "Sem novidades."

Ou seja, se a pessoa que lhe pergunta estiver feliz, e você disser que está triste, talvez pertube a felicidade dela, e se você estiver feliz e ela triste, talvez se torne uma situação constrangedora...Assim melhor responder sempre: "Sem novidades"

Dessa forma, o artista marcial tenta seguir seu "Caminho" fazendo com que suas fraquezas não fiquem tão expostas...

"O verdadeiro samurai mesmo que esteja com fome, palita os dentes para que ninguém o saiba"

(HAGAKURE - Yamamoto Tsunetomo)





PARTE 2: DICA DE LIVRO



Prosseguindo, queria falar agora um pouquinho de um livro que voltei a ler recentemente pela "enésima" vez, chamado: "O zen nas artes marciais"(Zen in the Martial Arts,Joe Hyams.1979).Se não me engano, este livro encontra-se no Mogun na versão em inglês.

A primeira vez que o li, foi ainda em 2004, quando peguei também uma versão "Pocket" em inglês de um amigo que praticava artes marciais comigo aos Domingos de manhã. Na época lembro de ter lido em poucos dias, pois gostei muito.

O livro trata das aventuras do jornalista e escritor americano Joe Hyams no mundo das artes marciais. Onde este treinou com inúmeros instrutores de diferentes modalidades, incluindo Jim Lau do Ving Tsun e o próprio Bruce Lee com seu Jeet Kune Do.

A cada capítulo, ele narra algum dia seu de treino, onde recebeu uma lição de algum mestre(as minhas preferidas são as do mestre Han do Hapkido..rs) ou algum acontecimento memorável realizado por algum destes Mestres ou Instrutores.

Quando ganhei uma cópia em português deste livro no natal de 2005, e li pela segunda vez. Algo estava diferente. Não achava os "insights" do Joe Hyams tão legais assim.. na verdade muitas das vezes os achavam o oposto disso.. mas enfim.. vou deixar cada um que quiser ler, e tirar suas próprias conclusões..rs


Abaixo, transcrevo algumas linhas de um de meus capítulos favoritos:



Encontrei pela primeira vez o mestre de kenpo-karate Ed Parker em 1952, numa academia de Beverly Hills, onde ele alugava um espaço. Havaiano de belo porte, 1,80m de altura com um tufo espesso de cabelos negros, Parker lembrava-me uma árvore imensa, com braços fortes como galhos e pés nus enraizados na esteira de lona.(apesar do seu tamanho, ele se movimentava como um furacão). Usava um gi("kimono") gasto, convenientemente largo. Como sua faixa preta, o gi estava esbranquiçado em alguns pontos, devido a lutas e as muitas vezes em que fora lavado. Seu rosto era sereno e pacífico como se estivesse terminando uma meditação.


Lembro-me bem de minhas sessões iniciais em seu Dojo de Los Angeles, onde eu praticava Kumite com um adversário mais habilitado. Para compensar minha falta de conhecimento e experiência, eu tentava movimentos enganosos, austuciosos, que eram prontamente rebatidos. Fui dominado, e Parker viu-me duramente batido. Quando a luta terminou, eu estava arrasado. Parker chamou-me em seu escritório, uma sala pequena, escassamente mobiliada, com apenas uma escrivaninha riscada e cadeiras desconjuntadas.


-Por que você está tão desanimado?- perguntou-me.


-Por que não consegui marcar nenhum ponto.


Parker ergueu-se por detrás da escrivaninha, e tomando um pedaço de giz, traçou no chão uma linha de cerca de 1,5m de comprimento.


-Como você pode diminuir esta linha?- perguntou-me.


Observei a linha e dei-lhe várias respostas, incluindo a de cortar a linha em vários pedaços. Ele sacudiu a cabeça e traçou uma segunda linha, mais comprida do que a primeira.


-Como lhe parece agora a primeira linha?


-Mais curta-respondi.


Parker assentiu:-É sempre melhor aperfeiçoar e reforçar a sua própria linha ou conhecimento do que tentar cortar a linha do adversário. - Acompanhou-me até a porta e acrescentou: -Pense no que acabo de lhe dizer.


Pensei e me esforcei com empenho nos meses seguintes, desenvolvendo maior destreza, ampliando meus conhecimento e habilidade. Na proxima vez em que fui para a esteira enfrentar o mesmo oponente, este também se aperfeiçoara mais. Eu, porém, me saí bem melhor do que antes, porque aumentara o nível do meu conhecimento assim como desenvolvera minha habilidades...


(Aumente a sua linha. O Zen nas Artes Marciais, Joe Hyams.1979)

Até o próximo post no BLOG do Pereira.